martes, 16 de diciembre de 2008

La casa de campo



Acrílico sobre tela, 100 x 100 cm.

4 comentarios:

  1. Nesta casa vivi e permaneço vivendo, nãp encontrei tradução ainda mas é o meu poema preferido e é sobre uma casa no campo:
    "Em Portalegre, cidade
    Do Alto Alentejo, cercada
    De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
    Morei numa casa velha,
    Velha, grande, tosca e bela,
    À qual quis como se fora
    Feita para eu morar nela...

    Cheia dos maus e bons cheiros
    Das casas que têm história,
    Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
    De antigas gentes e traças,
    Cheia de sol nas vidraças
    E de escuro nos recantos,
    Cheia de medo e sossego,
    De silêncios e de espantos,
    – Quis-lhe bem como se fora
    Tão feita ao gosto de outrora
    Como ao do meu aconchego.

    Em Portalegre, cidade
    Do Alto Alentejo, cercada
    De montes e de oliveiras
    Do vento soão queimada
    (Lá vem o vento soão!,
    Que enche o sono de pavores,
    Faz febre, esfarela os ossos,
    E atira aos desesperados
    A corda com que se enforcam
    Na trave de algum desvão...)
    Em Portalegre, dizia,
    Cidade onde então sofria
    Coisas que terei pudor
    De contar seja a quem for,
    Na tal casa tosca e bela
    À qual quis como se fora
    Feita para eu morar nela,
    Tinha, então,
    Por única diversão,
    Uma pequena varanda
    Diante de uma janela.

    Toda aberta ao sol que abrasa,
    Ao frio que tolhe, gela,
    E ao vento que anda, desanda,
    E sarabanda, e ciranda
    De redor da minha casa,
    Em Portalegre, cidade
    Do Alto Alentejo, cercada
    De serras, ventos, penhascos e sobreiros,
    Era uma bela varanda,
    Naquela bela janela!

    Serras deitadas nas nuvens,
    Vagas e azuis da distância,
    Azuis, cinzentas, lilases,
    Já roxas quando mais perto,
    Campos verdes e amarelos,
    Salpicados de oliveiras,
    E que o frio, ao vir, despia,
    Rasava, unia
    Num mesmo ar de deserto
    Ou de longínquas geleiras,
    Céus que lá em cima, estrelados,
    Boiando em lua, ou fechados
    Nos seus turbilhões de trevas,
    Pareciam engolir-me
    Quando, fitando-os suspenso
    Daquele silêncio imenso,
    Eu sentia o chão a fugir-me,
    – Se abriam diante dela
    Daquela
    Bela
    Varanda
    Daquela
    Minha
    Janela,
    Em Portalegre, cidade
    Do Alto Alentejo, cercada
    De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
    Na casa em que morei, velha,
    Cheia dos maus e bons cheiros
    Das casas que têm história,
    Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
    De antigas gentes e traças,
    Cheia de sol nas vidraças
    E de escuro nos recantos,
    Cheia de medo e sossego,
    De silêncios e de espantos,
    À qual quis como se fora
    Tão feita ao gosto de outrora
    Como ao do meu aconchego...

    Ora agora,
    Que havia o vento soão
    Que enche o sono de pavores,
    Faz febre, esfarela os ossos,
    Dói nos peitos sufocados,
    E atira aos desesperados
    A corda com que se enforcam
    Na trave de algum desvão,
    Que havia o vento soão
    De se lembrar de fazer?
    Em Portalegre, dizia,
    Cidade onde então sofria
    Coisas que terei pudor
    De contar seja a quem for,
    Que havia o vento soão
    De fazer,
    Senão trazer
    Àquela
    Minha
    Varanda
    Daquela
    Minha
    Janela,
    O testemunho maior
    De que Deus
    É protector
    Dos seus
    Que mais faz sofrer?

    Lá num craveiro, que eu tinha,
    Onde uma cepa cansada
    Mal dava cravos sem vida,
    Poisou qualquer sementinha
    Que o vento que anda, desanda,
    E sarabanda, e ciranda,
    Achara no ar perdida,
    Errando entre terra e céus...,
    E, louvado seja Deus!,
    Eis que uma folha miudinha
    Rompeu, cresceu, recortada,
    Furando a cepa cansada
    Que dava cravos sem vida
    Naquela
    Bela
    Varanda
    Daquela
    Minha
    Janela
    Da tal casa tosca e bela
    À qual quis como se fora
    Feita para eu morar nela...

    Como é que o vento soão
    Que enche o sono de pavores,
    Faz febre, esfarela os ossos,
    Dói nos peitos sufocados,
    E atira aos desesperados
    A corda com que se enforcam
    Na trave de algum desvão,
    Me trouxe a mim que, dizia,
    Em Portalegre sofria
    Coisas que terei pudor
    De contar seja a quem for,
    Me trouxe a mim essa esmola,
    Esse pedido de paz
    Dum Deus que fere ... e consola
    Com o próprio mal que faz?

    Coisas que terei pudor
    De contar seja a quem for
    Me davam então tal vida
    Em Portalegre; cidade
    Do Alto Alentejo, cercada
    De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
    Me davam então tal vida
    – Não vivida!, mas morrida
    No tédio e no desespero,
    No espanto e na solidão,
    Que a corda dos derradeiros
    Desejos dos desgraçados
    Por noites do tal soão
    Já várias vezes tentara
    Meus dedos verdes suados...

    Senão quando o amor de Deus
    Ao vento que anda, desanda,
    E sarabanda, e ciranda,
    Confia uma sementinha
    Perdida entre terra e céus,
    E o vento a traz à varanda
    Daquela
    Minha
    Janela
    Da tal casa tosca e bela
    À qual quis como se fora
    Feita para eu morar nela!

    Lá no craveiro que eu tinha,
    Onde uma cepa cansada
    Mal dava cravos sem vida,
    Nasceu essa acaciazinha
    Que depois foi transplantada
    E cresceu; dom do meu Deus!,
    Aos pés lá da estranha casa
    Do largo do cemitério,
    Frente aos ciprestes que em frente
    Mostram os céus,
    Como dedos apontados
    De gigantes enterrados...
    Quem desespera dos homens,
    Se a alma lhe não secou,
    A tudo transfere a esperança
    Que a humanidade frustrou:
    E é capaz de amar as plantas,
    De esperar nos animais,
    De humanizar coisas brutas,
    E ter criancices tais,
    Tais e tantas!,
    Que será bom ter pudor
    De as contar seja a quem for!

    O amor, a amizade, e quantos
    Sonhos de cristal sonhara,
    Bens deste mundo, que o mundo
    Me levara,
    De tal maneira me tinham,
    Ao fugir-me,
    Deixando só, nulo, atónito,
    A mim que tanto esperava
    Ser fiel,
    E forte,
    E firme,
    Que não era mais que morte
    A vida que então vivia,
    Auto-cadáver...

    E era então que sucedia
    Que em Portalegre, cidade
    Do Alto Alentejo, cercada
    De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
    Aos pés lá da casa velha
    Cheia dos maus e bons cheiros
    Das casas que têm história,
    Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
    De antigas gentes e traças,
    Cheia de sol nas vidraças
    E de escuro nos recantos,
    Cheia de medo e sossego,
    De silêncios e de espantos,
    – A minha acácia crescia.

    Vento soão!, obrigado
    Pela doce companhia
    Que em teu hálito empestado,
    Sem eu sonhar, me chegava!
    E a cada raminho novo
    Que a tenra acácia deitava,
    Será loucura!..., mas era
    Uma alegria
    Na longa e negra apatia
    Daquela miséria extrema
    Em que vivia,
    E vivera,
    Como se fizera um poema,
    Ou se um filho me nascera.

    José Régio.

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  2. No entendi nada xD, Pero la pintura está buenisima, me hace acordar al a cancion de carlos varela "en mis sueños veo un pajaro en el aire mirando hacia el mar, y hay un pez que mira al cielo creo que sueña con volar" ;)

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  3. me parecio fuerte el cuadro....denota y conota muchas cosas a mi parecer muy fuertes

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  4. Fiorella,
    o poema
    fala de uma casa de campo,
    de um homem,
    de desespero,
    dos frio cortante no Inverno e de Inferno no Verão (uma casa que conheço bem),
    de uma semente que se transforma em árvore e lhe devolve a esperança, enfim... um pouco como quando escreves um poema ou te nasce um filho... quando crias!
    O quadro
    E se a baleia decide voar?
    Onde está presa a corda?
    Um cenário Apocalíptico algo de Tarkovsky, enfim, uma leitura apenas.

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